O reconhecimento dos intérpretes e tradutores vai contribuir para a difusão da língua de sinais e para a integração dos surdos na sociedade
Nos últimos anos, a sociedade civil vem se sensibilizando com as dificuldades enfrentadas pelos surdos. Assim, mecanismos para a inserção deles na sociedade têm sido pensados por governos e organizações não-governamentais com o intuito de contribuir para a democratização do ato de se comunicar e de ser compreendido.
E, nesse contexto, um determinado profissional torna-se imprescindível: o tradutor e intérprete de sinais. A Libras – Língua Brasileira de Sinais – de acordo com a Lei 2416/2002, é a segunda língua oficial do Brasil. No entanto, apesar de conhecida, ainda são poucas pessoas que conseguem entendê-la. O intérprete é o responsável por essa ponte entre os surdos e o mundo ouvinte. Mas esse profissional é regulamentado? Tem suas garantias respeitadas? Quais as dificuldades?
Os tradutores lutam para serem regularizados pelo Ministério do Trabalho. A categoria já existe no cadastro de ocupações, mas o projeto de regulamentação ainda tem que passar por algumas esferas para entrar em validade. O projeto de lei nº 4.673/04, da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), reconhece a profissão de tradutor e intérprete de Libras. O texto foi aprovado no final de 2008, na Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, e agora tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC). Se for aprovado, ele deve seguir para o Senado Federal para análise e votação.
No Ceará, estima-se que há 70 mil pessoas, entre surdos e deficientes auditivos. E, apenas, cerca de 100 intérpretes para todo o Estado. De acordo com o presidente da Associação dos Profissionais Intérpretes e Tradutores de Libras do Ceará (APILCE), professor Ernando Pinheiro, a categoria já obteve várias conquistas, como a instituição do Dia do Intérprete, 8 de julho.
Ernando avalia ainda a importância dos intérpretes para a vida dos surdos. “Com a conquista dos espaços pelos surdos, os intérpretes estarão para garantir as informações, seja nas escolas, nos meios de comunicação, nos congressos ou reuniões”. Existente desde 2006, a APILCE conta com 65 intérpretes em seu quadro de associados e objetiva congregar profissionais para formar, fiscalizar e lutar por melhores condições de trabalho. Ele ressalta, no entanto, que esse número é muito aquém do necessário para atender as diversas solicitações.
PROFISSÃO INTÉRPRETE
Segundo especialistas, o intérprete de Libras – a Língua Brasileira de Sinais – está em alta no mercado de trabalho. É considerado um campo promissor, em expansão e, ainda, pouquíssimo explorado. O decreto 5.626/2005 regulamenta a Libras e a formação educacional do intérprete capacitado a trabalhar com ela.
Com a educação inclusiva, espera-se que cada vez mais pessoas com surdez frequentem o ambiente escolar nos próximos anos. Dentro da perspectiva de qualificar pessoas para atuarem como intérpretes profissionais, uma parceria entre a Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ofertou uma turma de graduação a distância em Letras Língua Brasileira de Sinais, que até 2012 deve formar 30 novos profissionais. De acordo com a coordenadora do curso, Vanda Leitão, não se sabe ao certo se, após o fim dessa turma, haverá outra. Mas quem se interessar pela profissão pode procurar a Associação dos Intérpretes e fazer inscrição no curso.
SERVIÇO:Associação dos Profissionais Intérpretes e Tradutores de Libras do Ceará – Av. Bezerra de Menezes, 549 – Telefone: 3281 2334
História contada com as mãos
Ao passar por uma igreja evangélica, Nilton Câmara teve o primeiro contato com a linguagem de sinais. Ele conta que ficou curioso ao ver a forma de comunicação entre intérpretes e surdos. “Aprendi a língua de sinais apenas olhando os outros intérpretes e surdos sinalizando, fazia minhas anotações pessoais para não esquecer os sinais e, em cerca de um mês, já estava interpretando algumas canções na igreja”. Nilton é intérprete de Libras da Igreja Comunidade Cristã Videira.
Hoje, Nilton cursa mestrado em Linguística Aplicada, especializou-se em Libras e é um dos principais intérpretes de Fortaleza. “O reconhecimento não é algo repentino, leva tempo e precisa repassar confiança. O segredo do sucesso é ser sempre determinado, ter ética e desenvolver tudo com muito amor e profissionalismo”.
Nilton ganhou destaque ao trabalhar com o método da musicalidade. Ele explica que esse é um dos maiores desafios: “musicalidade é a possibilidade que o homem tem de expressar a música interna, ou entrar em sintonia com a música externa. E podemos expressar corporalmente tal musicalidade por diversas possibilidades. Assim, o surdo reage à música e expressa também a sua musicalidade. Como a música é um mecanismo que antecede a linguagem, historicamente falando, a inclusão do surdo é totalmente possível. Adentrar neste mundo de silêncio é o maior desafio”.
Fonte: http://www.bancariosce.org.br/jornal1_detalhes.asp?CodJornal=211&CodNoticia=2845
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